Há exatos dez anos, a Volkswagen
apresentou o Gol Total Flex, o primeiro carro brasileiro que era capaz de rodar
com gasolina ou etanol - que na época ainda era chamado apenas de álcool. Hoje,
os motoristas podem chegar às bombas de combustível e ter liberdade para
escolher o que for mais vantajoso. Mas você sabe como funciona o sistema que
tornou isso possível?
Em 2012, dos mais de 3.800.000 veículos leves novos licenciados no País, 87% eram equipados com algum tipo de sistema flexível de combustível, segundo os dados da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). No acumulado dos dois primeiros meses de 2013, essa estatística subiu para 88,3%.
Deixe a eletrônica te levar
Sem injeção eletrônica, não
haveria carro flex, simples assim. Como a gasolina e o etanol produzem queimas
diferentes, necessitam de temperaturas e quantidade de oxigênio distintas para
funcionarem bem. Com os carburados, a mistura ar-combustível era regulada
mecanicamente pelo usuário. Imaginem ter que regular o carburador toda vez em o
combustível do tanque mudasse. A injeção eletrônica possui atuadores no sistema
de indução que regulam a mistura de acordo com a temperatura ambiente e a do
motor para fazer a regulagem automaticamente.
Outro item indispensável para o
carro flex é a sonda lambda, um sensor instalado no coletor do escape, antes do
catalisador, que faz a leitura dos gases que saem das câmaras de combustão do
motor. Se a queima estiver pobre (muito ar) ou rica (muito combustível), ela
pode mandar um sinal à central eletrônica do motor para enviar mais ou menos
oxigênio.
Como gasolina e etanol emitem
gases resultantes diferentes, a sonda identifica o que o carro está queimando.
Nos modelos mais modernos, há um equipamento no tanque que, por meio da medição
da diferença de condutibilidade elétrica de ambos os combustíveis, já faz a leitura
antes de gasolina, etanol ou qualquer proporção de ambos entrarem no motor.
Evolução do flex
Um item que persegue os carros
flex desde os tempos dos modelos movidos apenas a etanol é o subtanque de
gasolina para partidas a frio. Ele se encarrega de injetar o combustível fóssil
na admissão para melhorar o arranque e o funcionamento do propulsor antes de
atingir a temperatura ideal de funcionamento.
Como o combustível vegetal tem
uma temperatura de vaporização (fenômeno químico que possibilita a mistura do
ar com o combustível) diferente do fóssil, em temperaturas mais baixas e
abastecido com etanol, o carro não ligaria se não fosse pelo arcaico sistema
inventado na década de 1970, quantos os primeiros carros “a álcool” surgiram.
Em 2009 a Volkswagen mostrou o
Polo E-Flex, primeiro modelo do Brasil a deixar para trás o famigerado
“tanquinho”. Ele utilizava um sistema que aquecia o etanol durante a ignição
para permitir a partida. Com poucas vendas, porém, o modelo foi descontinuado.
A ideia, no entanto, persistiu. A
Citroën oferece hoje o sistema Flex Start nos modelos equipados com o motor 1.6
16V de comando variável, de 122 cv com etanol e 115 cv com gasolina. Como a
marca de origem francesa pertence ao mesmo Grupo PSA que conterrânea Peugeot, o
recém-lançado 208 com motor 1.6 se utiliza da mesma solução. Outro modelo que
deixou de usar o subtanque foi o Honda Civic 2.0, com o motor Flex One. O
propulsor do sedã gera 155 cv com etanol e 150 cv com gasolina.
Faça as contas
Como o etanol é menos eficiente
em sua queima do que a gasolina, os propulsores abastecidos com o combustível
vegetal acabam consumindo mais. Então há um cálculo de preço para saber se é
melhor encher o tanque com um ou outro. O uso do etanol é vantajoso se o litro
custar até 70% do valor do litro da gasolina. Basta dividir o preço do
combustível de origem vegetal pelo da gasolina. Se o resultado for igual ou
inferior a 0,7, compensa usar etanol. Se passar de 0,7, vale a pena usar a
gasolina.
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